O homem faz a religião, a
religião não faz o homem. E a religião é, de fato, a autoconsciência e o
sentimento de si do homem, que, ou não se encontrou ainda, ou voltou a se
perder. [...] A religião é o ópio do povo. A abolição da religião enquanto
felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade real. Estas famosas palavras de Karl Marx em sua obra Crítica da filosofia do direito de Hegel, publicada em 1844,
podem ser verdadeiras a respeito da religião,
mas são absolutamente falsas a respeito da
espiritualidade cristã. A carta que o apóstolo Paulo escreveu aos cristãos da
cidade de Filipos, no ano 62, é um vigoroso testemunho de que existe uma
alegria que não se explica por alienação, ilusão ou fuga fantasiosa de uma
realidade indesejada e um mundo cruel.
Algemado 24 horas a um soldado da
guarda de elite de César, numa prisão domiciliar em Roma, aguardava julgamento
por ter sido acusado de crimes para os quais a pena era a morte, o que, de
fato, mais tarde, acabaria por acontecer, conforme nos diz a tradição da Igreja, que informa que o apóstolo Paulo foi decapitado
no ano de 67 d.C., por ordem do Imperador Nero. Paulo, apóstolo, não estava
iludido nem confuso, sabia que era prisioneiro por causa de sua fé em Jesus
Cristo e que, dificilmente, seria absolvido. Não tinha razões para viver
alegre, mas, ainda assim, escreve uma carta em que recomenda a alegria a todos.
Qual era, então, o segredo da sua alegria?
Warren Wiersbe fez uma leitura
original da Carta aos Filipenses [SEJA ALEGRE. Queluz, Portugal: Editora
Núcleo], onde apresentou os quatro ladrões da alegria e nos mostrou como
podemos capturar e prender cada um deles. O primeiro ladrão está identificado
com a palavra circunstâncias, que podem roubar nossa alegria. Foi Nietzsche
quem disse que somente quem sabe o porquê da
vida é capaz de suportar-lhe o como. E Paulo
sabia: para mim o viver é
Cristo e o morrer é lucro
(1.21), e, por essa razão, me alegro em saber que as coisas que me aconteceram contribuíram
para maior proveito do evangelho (1.12).
As pessoas também podem roubar
nossa alegria. Mas não podemos esquecer que nós somos as pessoas das outras pessoas. Num mundo em que todo mundo coloca a si
mesmo em primeiro lugar, não é estranho que vivamos tantos conflitos. A sugestão do apóstolo Paulo é simples: todos
devemos abandonar o egoísmo e imitar o jeito Cristo de viver (2.3-8).
Também as coisas podem roubar a
nossa alegria. Os chineses têm um ditado que diz que se você tem alguma coisa
que não pode perder, então não é você que tem a coisa, é a coisa que tem você.
O apóstolo Paulo recomenda que façamos uma avaliação em busca daquilo pelo que
realmente vale a pena viver. Depois de avaliar sua vida concluiu que seus três
maiores desejos eram: conhecer a Cristo, experimentar o poder da sua ressurreição
e participar dos seus sofrimentos (3.10). Percebeu que, comparadas a Cristo,
todas as coisas eram como esterco. Paulo era daqueles sobre quem Jim Eliot
afirmou: Não é tolo nenhum aquele que abre mão
do que não pode reter, para ganhar o que não pode perder.
Finalmente, a ansiedade a
respeito do futuro pode roubar a nossa alegria. Paulo recomenda: Não vivam ansiosos por coisa alguma; antes as suas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz
de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus pensamentos e
sentimentos em Cristo Jesus (4.6,7). A
oração é um
caminho de paz e alegria, pois somente quem é
capaz de se ajoelhar diante de Deus consegue afirmar: Posso
todas as coisas em Cristo, que me fortalece
(4.13).
A carta aos Filipenses não é
auto-ajuda barata, que diz ao leitor iludido que tudo vai correr bem e que, ao
final, tudo dá sempre certo. Não é uma dose de ópio. É um testemunho de fé. A
fé que vence o mundo. A fé em Jesus Cristo, nosso Senhor. Em nome de quem a
vida vale a pena.
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